A dependência emocional pode revelar muito mais do que um simples apego ao outro, ela pode ser um movimento inconsciente que remete à infância, quando a nossa sobrevivência dependia totalmente da presença e do cuidado de alguém. No início da vida, a relação com os cuidadores é marcada por uma fusão: o bebê não se percebe como um sujeito separado, mas como extensão do outro. Com o amadurecimento, é esperado que ocorra, aos poucos, um processo de separação psíquica. É nesse percurso que o sujeito aprende a lidar com a falta, com o desejo, com a espera e com o fato de que o outro não estará sempre disponível.
Quando esse processo não acontece de forma saudável, o sujeito pode carregar para a vida adulta uma dificuldade em sustentar-se sozinho. O medo da perda, o apego ansioso e a angústia diante da separação podem se repetir nos relacionamentos, ainda que de forma inconsciente. Na psicanálise, entendemos que não se trata apenas de um comportamento aprendido, mas de um traço inscrito na história psíquica de cada um, muitas vezes ligado às primeiras experiências de ausência, desamparo ou falta de acolhimento.
Nos relacionamentos amorosos, isso se manifesta de diferentes formas: o sujeito pode viver constantemente em função do parceiro, sentir um medo excessivo de abandono, ter crises de ciúmes, entrar em conflitos intensos, tolerar situações de violência emocional ou sentir-se incapaz de colocar limites. Há casos em que a dependência emocional se conecta também a sintomas psíquicos, como crises de ansiedade, episódios depressivos, dificuldades para tomar decisões e uma sensação persistente de vazio quando não está na presença do outro.
Do ponto de vista psicanalítico, essas repetições não são meras coincidências. O sujeito busca, nas relações atuais, reencontrar algo que ficou marcado nas primeiras experiências com as figuras de cuidado. Há uma tentativa inconsciente de reparar um sentimento antigo de desamparo, mas, muitas vezes, o que ocorre é justamente a reprodução do mesmo sofrimento. Essa dinâmica revela o que Freud chamava de compulsão à repetição: a tendência de recriar, no presente, cenas emocionais que remetem ao passado, na esperança de que, desta vez, o desfecho seja diferente.
O que chamamos de dependência emocional, portanto, não se reduz a uma dificuldade de “se amar mais” ou “ser independente”. Ela fala sobre a forma como o sujeito foi constituído na relação com o outro e como lida com a falta, com o desejo e com a separação. Reconhecer a dependência não significa que é necessário romper totalmente os vínculos, já que é parte da condição humana estar com o outro, mas reconhecer que o amor só se torna possível quando também há espaço para ser sujeito, para sustentar quem se é, mesmo diante da ausência do outro.
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