Entendendo a ansiedade: entre o biológico e o inconsciente
Juliana Prado
12 de dez. de 2023
2 min de leitura
Atualizado: 9 de set.
A ansiedade faz parte da experiência humana. Sentir-se ansioso diante de situações novas ou importantes é algo esperado. Nosso corpo e nosso cérebro foram moldados para reagir a situações que envolvem risco, e essa resposta tem uma base biológica: quando algo é percebido como ameaça, o sistema nervoso ativa uma série de mecanismos que preparam o corpo para agir. Há liberação de adrenalina e cortisol, o coração acelera, a respiração se torna mais curta, os músculos se tensionam. É como se o corpo estivesse dizendo: “se proteja, reaja, faça algo”.
O problema começa quando essa ativação, que deveria ser pontual e protetiva, passa a ser constante, ou se torna desproporcional ao que está acontecendo. Quando o organismo permanece em estado de alerta por muito tempo, os sintomas começam a se acumular: insônia, agitação, dificuldade de concentração, lapsos de memória, dores no corpo, compulsões, medo de situações hipotéticas, sensação de desrealização, despersonalização, picos de pânico. Para o corpo, é como viver o tempo todo em ameaça, mesmo quando, objetivamente, nada grave está acontecendo.
Mas, para além da dimensão biológica, a psicanálise nos convida a pensar na ansiedade como um sinal psíquico. Freud dizia que a ansiedade é o afeto que surge diante da ameaça de uma perda, real ou imaginária. É como se o psiquismo antecipasse um perigo e se mobilizasse para tentar evitá-lo. Por isso, muitas vezes, a crise de ansiedade não tem uma “causa clara” do lado de fora, ela pode estar ligada a conteúdos inconscientes, memórias, desejos, traumas e conflitos que o sujeito não consegue nomear.
Durante uma crise, o corpo reage como se estivesse diante de algo urgente, mas, no fundo, é a psique tentando dar um sinal: existe um conteúdo que não encontrou espaço para ser simbolizado, algo que não foi elaborado e que retorna sob a forma de angústia. A respiração acelerada, a sensação de perda de controle, o medo da morte, todos esses sintomas podem ser a expressão de um desamparo psíquico que tem raízes mais antigas.
É importante lembrar que o pico de uma crise de ansiedade costuma durar poucos minutos, embora a sensação seja intensa. Procurar um espaço mais silencioso, focar na respiração e trazer a atenção para o presente pode ajudar o corpo a se regular. Mas, no nível mais profundo, a ansiedade nos convoca a refletir sobre o que está sendo vivido internamente. Não precisamos ignora-la, mas escuta-la. o corpo fala quando as palavras ainda não foram encontradas. A ansiedade, por mais desconfortável que seja, pode ser um caminho para conhecer melhor a si mesmo e entender o que está por trás desse estado constante de alerta.
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