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Quando o amor aprisiona: os vínculos que repetem a dor

  • Foto do escritor: Juliana Prado
    Juliana Prado
  • 12 de nov. de 2023
  • 2 min de leitura

Atualizado: 9 de set.

Nem sempre os sinais de uma relação tóxica são claros para quem está dentro dela. Muitas vezes, o sujeito sente que deveria se afastar, mas não consegue; deseja romper, mas permanece; sofre, mas ao mesmo tempo não se imagina sem o outro. Essa ambivalência pode gerar ansiedade, crises de ciúmes, insegurança e uma constante sensação de desamparo quando a presença do parceiro não está por perto. Sob a ótica psicanalítica, isso pode apontar para vínculos que, mais do que escolhas conscientes, tocam em camadas inconscientes da nossa história.

O que se repete no presente, muitas vezes, encontra raízes no passado. Experiências precoces de afeto, ausência, rejeição ou abandono podem marcar a forma como nos relacionamos na vida adulta. Quando, lá atrás, o amor foi vivido com instabilidade ou quando o sujeito precisou se moldar para manter o afeto do outro, pode surgir um padrão inconsciente de aceitar dinâmicas semelhantes nas relações atuais. O medo de perder, a dificuldade de se separar, o sentimento de que a própria existência depende da presença do outro, tudo isso pode estar relacionado a vivências antigas que não foram simbolizadas.

Numa relação tóxica, os sinais não estão apenas no comportamento do parceiro, mas também na maneira como o sujeito se coloca na relação. A sensação constante de vigilância, medir palavras, prever reações, controlar gestos, pode levar a um estado de ansiedade permanente. Conflitos parecem surgir do nada, especialmente próximos a momentos significativos, como datas comemorativas, e a tensão emocional se mistura ao cansaço físico: dores que não têm explicação médica, insônia, alterações de apetite e sintomas que o corpo produz como respostas à sobrecarga psíquica.

A psicanálise nos ajuda a entender que, em muitos casos, o que nos prende a relações abusivas não é o amor, mas o movimento inconsciente de tentar reparar uma ferida antiga. A repetição, aqui, cumpre um papel importante: voltamos ao mesmo tipo de relação como uma tentativa de “resolver” algo que ficou aberto na nossa história. Freud já dizia sobre a tendência do sujeito de recriar, no presente, experiências emocionais marcantes do passado, na esperança de que, desta vez, o desfecho seja diferente.

Isso não significa que a pessoa “escolhe” sofrer, mas que, muitas vezes, ela repete padrões que não reconhece. Romper um vínculo tóxico não passa apenas por sair fisicamente da relação, mas por compreender o que nela nos captura, quais fantasias, medos e desejos inconscientes estão em jogo e por que o afastamento pode parecer impossível, mesmo quando a dor é evidente.

Perceber os sinais de uma relação abusiva exige mais do que olhar para os comportamentos externos: pede que olhemos para dentro. Isso envolve reconhecer que, por trás de cada dinâmica de controle, de cada ameaça de abandono, de cada volta após um término, existem histórias mais antigas, afetos não ditos e feridas emocionais que ainda não foram elaboradas. Só quando começamos a escutar esses conteúdos é que abrimos espaço para construir relações mais saudáveis e menos pautadas pela repetição do sofrimento.

 
 
 

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