Vivemos em uma sociedade que nos exige muito: produzir, dar conta do trabalho, cuidar da casa, estar presente para a família e os amigos, manter uma rotina saudável, ir à academia, praticar o autocuidado e, de alguma forma, ainda encontrar tempo para nós mesmos. Essa pressão constante pode nos colocar em um estado de exaustão mental e física que, muitas vezes, acaba confundindo os nossos sentimentos. A tristeza, o cansaço e a falta de disposição se tornam cada vez mais frequentes e, em meio a tudo isso, surge a dúvida: como saber se o que sinto é apenas tristeza passageira ou se pode ser um quadro de depressão?
A tristeza faz parte da vida. É uma resposta natural diante de frustrações, perdas e mudanças. Ninguém está feliz o tempo todo, e sentir-se desanimado em determinados momentos não significa, necessariamente, estar doente. Mas quando esse estado se prolonga por semanas, quando começa a comprometer a relação com os outros, a qualidade do sono, o apetite, a concentração e o prazer em coisas que antes eram agradáveis, isso pode indicar que algo mais profundo está acontecendo.
Na psicanálise, a depressão não é compreendida apenas como um desequilíbrio químico ou como falta de força de vontade. Ela pode estar ligada a lutos não elaborados, a experiências de perda que não puderam ser simbolizadas, a desejos que foram silenciados e a exigências internas que o sujeito não consegue sustentar. Freud, ao diferenciar o luto da melancolia, já chamava atenção para isso: no luto, a tristeza é direcionada para a perda de um objeto, e, com o tempo, pode ser elaborada; na melancolia, essa dor se volta para o próprio eu, criando uma sensação de vazio e desamparo que parece não ter fim.
A sociedade atual, com seus imperativos de produtividade e felicidade, também contribui para esse sofrimento. Vivemos em uma cultura que nega a falta, que cobra disposição e sucesso o tempo todo e que quase não oferece espaço para o descanso e para a expressão da dor. Diante desse cenário, muitas pessoas passam a sentir que não podem se permitir entristecer, como se a tristeza fosse um sinal de fracasso. Só que aquilo que é negado retorna de outras formas: no corpo, no sono, no apetite, na irritabilidade, no choro frequente ou na ausência de desejo.
Por isso, é importante lembrar que os sintomas não estão ali por acaso. Eles carregam uma história, falam de algo que muitas vezes ainda não foi dito e sinalizam conflitos que pedem para ser escutados. Falar sobre o sofrimento abre espaço para compreender o que ele revela sobre nós e sobre a forma como nos relacionamos com o mundo.
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